Já perdemos milhares no Brasil por negligência com clima, diz secretária de ambiente do Rio

A nova secretária municipal de Ambiente e Clima do Rio de Janeiro cresceu em meio aos problemas que, desde o último mês, passou a ter a missão de resolver no trabalho. Nascida na Praça Seca, na comunidade do Loteamento, zona oeste da cidade, Tainá de Paula diz ter percebido cedo que a discussão sobre sustentabilidade só alcançava locais distantes dali.

"Trinta anos se passaram e água ainda é um tema muito forte na favela de onde eu vim. Temos índices de precipitações talvez dos maiores da América Latina e ainda não tem uma discussão mais ampla sobre isso", afirma a arquiteta, eleita vereadora pelo PT em 2023.

Na raiz da questão, ela avalia, está o racismo, que se traduz em falta de investimentos nas áreas periféricas.

"Nós perdemos no Brasil milhares de pessoas nos últimos dez anos por conta da negligência, da ausência de uma política séria de mitigação dos danos vindos da inconstância climática", destaca, citando a recente tragédia de São Sebastião (SP) e as chuvas de Petrópolis (RJ).

Para o Rio, diz a secretária, uma das prioridades é o cuidado com o lixo, que, segundo ela, está na origem de 70% dos alagamentos. Ele é também vilão pelas emissões de gases originadas com o descarte inadequado.

Para além de recursos financeiros, como soluções para esses nós, Tainá vê a educação ambiental e o papel de guardião dos próprios moradores. Remoções, por outro lado, não devem estar no centro das ações, diz.

"Determinados territórios podem se tornar comunidades ecológicas, sustentáveis, com realocações dentro do seu próprio território, onde as encostas não sejam as mais íngremes a serem ocupadas, mas aquelas que conseguem permitir soluções de arquitetura e engenharia possíveis", afirma.

"É muito importante que se diga que os ricos continuam morando nas encostas e continuam acessando soluções de geotecnia e engenharia", argumenta ainda.

Como a agenda socioambiental e de justiça climática chegou à sua vida profissional? Desde muito jovem, comecei a entender que a discussão da sustentabilidade só alcançava determinados territórios e determinadas faixas de renda. Era muito difícil implementar um projeto sustentável de urbanização de favela, por exemplo.

Uma placa solar, se hoje ela ainda é cara, há 20 anos, ela era muito mais cara. E uma implementação de projeto de água de reúso, ou de fossa, filtro e sumidouro sustentáveis era muito mais cara e inacessível justamente naqueles territórios que mais precisavam.

Como remodelar as cidades em tempos de emergência climática? É muito importante que a gente faça uma agenda de reparação àqueles que foram historicamente impactados. Existe uma negação da crise climática muito grande ainda, e isso é reflexo da nossa péssima educação ambiental, da péssima adesão dos setores produtivos que se beneficiam das matrizes do extrativismo, desmatamento, deste modo de produção capitalista brasileiro.

Existe uma lógica de racismo global que impacta não só o Brasil, mas a América Latina, numa lógica de país de descarte.

Nós percebemos recentemente as chuvas do litoral norte de São Paulo, as chuvas que aconteceram aqui no estado do Rio de Janeiro, tanto na capital do Rio quanto em Petrópolis. Nós perdemos no Brasil milhares de pessoas nos últimos dez anos por conta da negligência, da ausência de uma política séria de mitigação dos danos vindos da inconstância climática. Precisamos de recursos para enfrentar e, claro, recurso atrelado ao planejamento.

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