Podcast discute crise demográfica na China à luz do declínio da população
A China perdeu para a Índia o primeiro lugar de país com maior população mundial. Isso já se sabia. O que não se sabia ainda é que o regime chinês não está conseguindo reverter seu declínio demográfico, estimulando a gestação de até três filhos por casal.
A questão foi abordada por quatro especialistas em podcast da BBC. Um deles, Yasheng Huang, professor do MIT, disse que regimes autoritários como o da China são eficientes ao impor políticas restritivas, mas têm menos êxito ao estimular comportamentos mais permissivos.

A medida restritiva à qual ele se refere foi a política de um único filho por família, imposta pelo Partido Comunista Chinês em 1980 e que conseguiu conter o crescimento populacional. Essa determinação vigorou até 2015, quando duas crianças para cada casal foram permitidas.
Mas a nova diretriz não impediu que a população continuasse caindo. Então, em 2023, o PC Chinês determinou que o número de filhos por casal subisse para três. O problema é que ninguém deu bola para a nova política, em que pesem estímulos em dinheiro que o regime passou a oferecer.
O problema, diz Yun Zhou, demógrafa e professora da Universidade de Michigan, é que, de meio século para cá, o perfil da sociedade chinesa mudou. Mulheres procuram ser profissionalmente bem-sucedidas. Sabem que basta um só filho para ficarem enterradas em afazeres domésticos. Três filhos? Nem pensar.
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A inadequação da oferta do regime é abordada em outro ângulo por Isabel Hilton, criadora de um portal sobre questões ambientais. Nos anos 1960, diz ela, a China era em grande parte uma sociedade rural, em que os pais trabalhavam no campo, e as crianças numerosas ficavam por conta de um coletivo difuso de adultos. Hoje só 30% da população não mora nas cidades. E os avós tampouco estão ao alcance para cuidar dos netos.
Mas os burocratas do partido se desesperam com a queda acelerada da fertilidade. Em 2023, nasciam 7,5 crianças para cada mil habitantes. No ano seguinte já eram 6,7 por mil (são 11 nos EUA e 16,4 na Índia).
Outros indicadores: no ano passado a população chinesa decresceu em 850 mil pessoas. Foi o maior declínio desde 1961, quando o regime comunista sofria os efeitos de uma crise alimentar que matou muita gente. E ainda: a política de um só filho por casal levou à valorização de bebês do sexo masculino —o aborto e o infanticídio cuidavam do problema. Pois bem, há hoje 30 milhões de homens a mais que mulheres em uma população de 1,4 bilhão.
Esse conjunto de más notícias se reverteria apenas se os casais aceitassem os estímulos do Partido Comunista e voltassem a procriar como antigamente. Mas não é o caso, diz Victor Gao, vice-presidente de uma ONG com sede em Pequim que trata da globalização.
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