Mundo prende respiração enquanto testa liderança de Xi Jinping na China

Em setembro de 2012, às vésperas de se tornar líder da China, Xi Jinping desapareceu por uma semana. Um evento assim passaria despercebido no Ocidente, mas na China, onde a transição de poder é tradicionalmente obscura, a ausência de quem era considerado o potencial sucessor de Hu Jintao ganhou as páginas da imprensa.

Jornalistas questionavam a possibilidade de um golpe. Houve quem especulasse que Xi estivesse preso ou morto. Pequim nunca explicou o que aconteceu, mas o Washington Post chegou a publicar reportagem relatando uma reunião acalorada com membros do Partido Comunista Chinês na qual Xi teria sido atingido na cabeça com uma cadeira. Ao retornar para a vida pública, visitou uma fazenda —rumores de quem estava presente dizem que Xi usava um colete à prova de balas, e há quem jure que durante o sumiço ele refletia se queria realmente liderar a China.

Verdadeira ou não, a história ajuda a explicar a cara do partido naquela época. A China é uma ditadura, mas nunca foi uma ditadura de um homem só. Ao longo de mais de 70 anos e após uma era de desmandos de Mao Tsé-tung, os comunistas aprenderam que a continuidade do sistema de governo dependia de permitir o debate e a disputa de protagonismo dentro da sigla, evitando que uma única pessoa levasse o país ao abismo.

Com a morte de Mao, floresceram diferentes facções internas defendendo prioridades distintas e, juntas, formando a chamada "liderança coletiva". Cabia àquele que ocupava o posto máximo mediar interesses, por vezes às custas da própria perda de autoridade. Sob a batuta de Xi, que talvez à época do desaparecimento temesse se tornar vítima das gerações anteriores à ele, as coisas mudaram.

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A esta altura, o leitor já sabe que Xi promoveu ampla centralização do poder, eliminando a influência de facções como a Juventude Comunista (de onde veio Hu Jintao) e a Gangue de Xangai (da qual Jiang Zemin era membro). Ao ser confirmado para um terceiro mandato de cinco anos, Xi estava cercado de aliados e amigos de longa data, praticamente limando qualquer oposição interna à sua liderança.

Muita tinta foi gasta sobre o que isso significa. Observadores concluíram que, com a nova composição da cúpula hierárquica escolhida em outubro, sem oposição, Xi se tornaria um novo Mao. O temor era de que, ao tomar uma decisão errada, ninguém se atreveria a questioná-lo, levando o país a incorrer em erros e não corrigi-los a tempo. Mas talvez seja preciso mais tempo para entender a validade neste argumento.

Enquanto o mundo acompanhava a confirmação de Xi ao longo das Duas Sessões, a Reuters publicou longa reportagem sobre o que esteve por trás do fim da política de Covid zero. Segundo a agência, nas semanas anteriores ao Congresso do Partido, Xi discutia com especialistas médicos um plano de reabertura gradual da China com o objetivo de declarar normalidade sanitária em março deste ano.

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